Saber lidar com a democracia e com liberdade de expressão é para poucos. Ler nos jornais que Hugo Chávez não vai renovar a concessão de uma emissora de TV venezuelana, a RCTV, me lembra muito a postura de muitos ditadores latino-americanos, que começam querendo controlar coisas pequenas, depois vão aumentando seu poder mais e mais e, em determinado momento, querem decidir o que as pessoas podem ou não podem assistir, ler, fazer ou pensar. Contam sempre com uma massa de manobra devidamente catequizada, a quem podem recorrer para legitimar o que fazem.
“É melhor que vá preparando as suas malas e veja o que vai fazer a partir de março, pois não haverá nova concessão para esse canal golpista que se chamou Radio Caracas Televisión”.
A RCTV é o canal privado mais antigo da Venezuela. É oposicionista e é acusado de ter apoiado, ao lado de outras quatro emissoras, o golpe (de dois dias) que Chávez tomou em 2002.
“Aqui não se vai tolerar nenhum meio de comunicação que esteja a serviço do golpismo, contra o povo, contra a nação, contra a independência nacional, contra a dignidade da república”.
É sempre assim. “Para o bem do país e do povo”, bradam. Querem decidir tudo, para o bem do país e do povo, é claro.
Willian Lara, ministro das Comunicações da Venezuela, ao responder às críticas da ONG Repórteres Sem Fronteiras, disse que a ONG “deve ir às comunidades perguntar por que a maioria das famílias venezuelanas questiona a programação, a linha editorial e informativa de muitas emissoras de TV e de rádio, entre as quais está a RCTV”.
Se a maioria das famílias venezuelanas questiona a programação e a linha editorial da TV, que deixe de assistir a porra da TV.
A vida política de certos países parece, lamentavelmente, andar pra trás.
(Em dezembro de 2006)